Frequentemente atendo pacientes com sintomas característicos de um aneurisma e muitas dúvidas sobre a condição e seus riscos. Isso porque existem diferentes tipos de aneurismas em diferentes partes de nosso corpo, cada um com seus sintomas e possibilidades de tratamento. Neste artigo, apresentarei os tipos de aneurismas mais comuns e suas especificidades.
Aneurisma cerebral
Este tipo tem como característica a dilatação de uma artéria no cérebro devido ao enfraquecimento da parede arterial. Além disso, é inicialmente assintomático, contudo, à medida que cresce, pode causar sintomas como dor de cabeça intensa, visão dupla, náuseas e vômitos. Nesse sentido, as principais formas de tratá-lo são:
- Embolização: procedimento para bloquear o aneurisma com bobinas de metal (molas).
- Cirurgia microvascular: indicada para casos complexos, permite acesso direto ao aneurisma para reparo cirúrgico.
- Monitoramento regular: essencial para aneurismas pequenos ou assintomáticos.
- Medicação: controla a pressão arterial, reduzindo o risco de ruptura do aneurisma.
Aneurisma das artérias dos órgãos abdominais (viscerais)
Este tipo tem como característica a dilatação de uma artéria que nutre um órgão do abdome (víscera), como o intestino ou o fígado. A maioria começa assintomático, mas conforme crescem, podem levar a sintomas como dor abdominal e lombar, além de poder interferir no funcionamento destes órgãos. Alguns aneurismas estão relacionados, por exemplo, a alterações na função renal e até no controle da pressão arterial. As principais formas de tratá-lo são:
- Embolização: procedimento para bloquear o aneurisma com molas e stents.
- Cirurgia de restauração vascular: raramente indicada, mas consiste em remover trechos doentes e substituilos por próteses ou pontes com veias;
- Monitoramento regular: essencial para aneurismas pequenos ou assintomáticos. Felizmente, a maioria dos casos
- Remoção do órgão: nos casos mais graves, pode ser necessária a remoção cirúrgica do órgão afetado;
Aneurismas da aorta abdominal
O aneurisma da aorta abdominal afeta a principal artéria responsável por transportar sangue do coração para o corpo, conhecida como aorta. A condição é frequentemente associada à aterosclerose, um processo no qual as artérias se estreitam devido ao acúmulo de placas de gordura e colesterol.
Inicialmente, o aneurisma da aorta abdominal pode não apresentar sintomas, tornando o diagnóstico precoce desafiador. Contudo, à medida que cresce, pode causar uma sensação de pulsão abdominal, especialmente em áreas próximas ao umbigo.
Ademais, em situações mais severas, um aneurisma da aorta abdominal pode levar a sintomas como dor abdominal intensa, náuseas persistentes e, em casos extremos, choque hemorrágico se houver ruptura da parede arterial.
Entre os tratamentos para o aneurisma de aorta abdominal, estão:
- Endoprótese: uma alternativa menos invasiva (e com menos riscos) à cirurgia tradicional é a colocação de uma endoprótese, uma estrutura de metal revestido com uma espécie de tecido. O dispositivo é inserido por meio de um cateter e posicionado dentro da aorta para reforçar a parede enfraquecida e prevenir a expansão do aneurisma.
- Intervenção cirúrgica: cada vez menos frequente. Ainda se utiliza desta técnica em casos de aneurismas maiores ou com risco iminente de ruptura, quando não se tem disponível uma endoprotese ou a anatomia é complexa demais.
- Controle de fatores de risco: a gestão eficaz de fatores de risco, tais como tabagismo, pressão arterial elevada e altos níveis de colesterol, assim como a adoção de hábitos de vida saudáveis, são fundamentais para o manejo e a prevenção de aneurismas da aorta abdominal.
- Monitoramento regular.
Aneurismas da aorta torácica
Com características similares às do aneurisma da aorta abdominal, o aneurisma da aorta torácica impacta a parte da aorta localizada no tórax. Nesses casos, também há associação à aterosclerose. Inicialmente, pode não apresentar sintomas, mas, á medida que cresce, seus sinais tendem a manifestar-se de forma mais intensa. Desse modo, o aneurisma da aorta torácica pode ser tratado por meio de:
- Cirurgia endovascular: é a opção menos invasiva e de escolha para tratamento atualmente para a maioria dos casos. Nesse procedimento, um cateter é inserido por meio de uma pequena incisão na virilha e guiado até o aneurisma na aorta torácica. Assim como no tratamento dos aneurismas da aorta abdominal, uma endoprotese é, então, colocada para fortalecer a parede da aorta e prevenir a expansão do aneurisma.
- Cirurgia aberta: em alguns casos, especialmente em aneurismas maiores ou complexos que envolvem parte de estruturas do coração, a cirurgia aberta pode ser necessária. Dessa forma, o procedimento envolve uma incisão no peito para acessar diretamente o local do aneurisma e substituir a parte enfraquecida da aorta por um enxerto sintético.
- Controle de fatores de risco: a gestão eficaz de fatores de risco, como pressão arterial elevada e colesterol, é essencial para prevenir o desenvolvimento ou a progressão do aneurisma da aorta torácica.
- Monitoramento regular.
Riscos de ruptura
A ruptura ocorre quando a parede enfraquecida de uma artéria se rompe, resultando em hemorragia, uma emergência médica séria.
Entre os fatores que aumentam significativamente o risco de ruptura, estão o tabagismo, a aterosclerose e a pressão arterial elevada não controlada, que podem acelerar o enfraquecimento das paredes arteriais.
Além disso, doenças genéticas que alteram o colágeno (como as síndrome de Marfan e Ehlers-Danlos) e a doença renal policística também aumentam a fragilidade das artérias cerebrais, o que, consequentemente, eleva o risco de ruptura de um aneurisma.
Portanto, é essencial identificar e controlar esses fatores de risco por meio de intervenções médicas apropriadas. Desse modo, atitudes como a cessação do tabagismo, o controle rigoroso da pressão arterial e o tratamento adequado das condições subjacentes, contribuirão com a redução da probabilidade de complicações graves associadas aos aneurismas.
Dr. Marcelo Giusti
Médico | CRM-SP 132068
Cirurgião Vascular | RQE 52453
Radiologia Intervencionista e Angiorradiologia | RQE 59003
